terça-feira, 16 de agosto de 2011

O BALANÇO DAS ÁGUAS ESPELHADAS

Num fim de tarde, sob as andorinhas bailando no céu azul, pessoas caminhavam freneticamente pela praça plantada por entre imensos blocos de concreto e aço. Na mesma praça, porém um tanto mais calmo, também eu caminhava. Decidi sentar-me num daqueles bancos de madeira, pretendendo, apenas, recolher da vida diária algo do seu disperso conteúdo, que pudesse fazê-la mais digna de ser vivida. Quis saborear aquela tarde agradável, pitoresca, sem saber para onde seria levado...

Aos poucos o sol ia se pondo, não conseguia vê-lo, sabia que ele ainda estava lá pois seus raios alaranjados coloriam as nuvens do céu azul que começava a ganhar tonalidade anoitecida. A brisa leve dava o ritmo do balanço das árvores e indicava a chegada da noite agradável. Lá em cima e aqui em baixo, estrelas e luzes acendiam. Estas últimas irradiavam uma coloração alaranjada, dando o tom de um imenso jantar a luz de velas. As andorinhas, recolhidas nas copas das árvores, aos pios, pareciam negociar um melhor galho para pernoitar. Por entre pios, ouvia, mais a diante, o barulho da fonte de água ao lado da gruta. Ela estava sutilmente iluminada por uma luz, também alaranjada, que evidenciava o trajeto das pequeninas gotas d’água que, insistentemente, teimavam em fugir ao ritmo daquela brisa leve. Decidi, atraído pelo som das águas, entregar-me ao seu encanto. Fui até a fonte e lá estavam, sob o olhar atendo dos pais, dois menininhos brincando na pequena ponte que dá acesso à gruta. Eles estavam sentados, segurando no parapeito, balançando os pezinhos e olhando para os rostinhos refletidos n’água. Os menininhos riam com gosto que tomou-me de súbito, envolvendo-me numa alegria inexplicável. Discretamente aproximei-me e vi: Riam da forma que seus rostinhos tomavam de acordo com o balanço das águas espelhadas.
Era minha hora. Tinha que ir. Passei pelos pais e andando emendei:
_ Lindas crianças!!!
_Ah!!! Obrigada!!! Disseram sorrindo...

Ronei Costa Martins
Limeira SP

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O Plano de Evacuação de Emergência



Fui estudante da escola SENAI “Luis Varga” aqui em Limeira. Como deveria ser em todas escolas, ali o processo educacional não se limitava às disciplinas fechadas em compartimentos isolados. Além do “diálogo” entre as disciplinas facilitando o aprendizado, era possível vivenciar um ambiente todo voltado para a formação intelectual, técnica e cidadã. Tanto é que guardo com carinho muitas situações que ali vivi e que foram determinantes na minha formação. E ao rememorá-las, sempre vêm à tona, a figura inesquecível de “Dona” Heloisa e do Prof. Natalino. Duas pessoas determinantes da minha formação. Das muitas lembranças que trago, uma tomou-me por ocasião do triste incidente da queda do forro, no nosso Shopping, em janeiro.

O fio condutor da saudosa memória foi este: A escola SENAI mantém um Plano de Evacuação de Emergência. Nele, os estudantes, professores, funcionários e possíveis visitantes, são preparados para lidar com eventuais situações de risco de vida.

Lembro-me como se fosse hoje: A cada semestre acontecia uma simulação de evacuação de emergência, chamada de “Exercício de Abandono de Prédio”. Não sabíamos a data nem sequer a hora que a simulação aconteceria, mas éramos todos preparados para lidar com as situações quando acontecessem. Havia um estudante por sala designado para fechar as janelas, outro para desligar as luzes, cada qual com a sua função. De forma ordenada e evitando pânico, todos seguiamos um trajeto anteriormente determinado até nos reunirmos num local seguro, que no caso da escola era a quadra poliesportiva. Éramos mais de 600 alunos, sem contar professores e funcionários. Evacuávamos o prédio em menos de 5 minutos.

Embora nunca tenha presenciado situação de perigo real, é certo que o Plano e sua correta implantação e simulação, visa evitar situações de tumulto e pânico que tendem a agravar e ampliar as proporções de uma possível tragédia. Com a adoção de um procedimento padrão, com rotas predeterminadas, funcionários treinados, sinalização adequada, os efeitos de incidentes como o ocorrido em janeiro podem ser minimizados, garantindo, inclusive, a preservação da integridade física, psicológica e emocional das pessoas envolvidas.

Como filho desta terra e lapidado pelos meus mestres a quem devo minha formação cidadã, senti necessidade de partilhar com a nossa cidade a lição da escola Senai. Decidi então, propor o Projeto de Lei 01/2011, que estabelece a manutenção de um Plano de Evacuação de Emergência para os edifícios acima de 750m². Caso seja aprovado pela Câmara Municipal e sancionado pelo senhor prefeito os empreendimentos citados no texto da lei deverão manter Planos de Evacuação, visando garantir a segurança de todas as pessoas que acessam, transitam e trabalham nos ambientes citados.

Há braços!

Ronei Costa Martins
Vereador PT Limeira

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Plano Municipal Participativo de Saneamento Básico




No curso deste ano, os municípios deverão elaborar o seu Plano Municipal Participativo de Saneamento Básico, conforme determina a Lei Federal 11.445/2007. O referido texto legal estabeleceu importantes diretrizes nacionais, dentre as quais está a obrigatoriedade da elaboração do Plano.

Para efeitos legais, o conceito de saneamento básico foi ampliado, como sendo o conjunto de procedimentos adotados que visem proporcionar uma situação saudável para todos os habitantes. Assim, além do abastecimento de água potável e o esgotamento sanitário, deveremos atentar para a limpeza urbana, o manejo e destino de resíduos sólidos e a drenagem das águas pluviais.

O Plano, que deverá ser elaborado tendo em vista uma projeção para os próximos 20 anos, abordará propostas de ações que visem combater os problemas verificados nas áreas que hoje são abarcadas pelo conceito de Saneamento Básico.

Para a nossa cidade é momento oportuno para nos dedicarmos à questões ainda não solucionadas, tais como, a gestão do aterro sanitário, visando garantir sua adequada manutenção e possível alongamento de sua vida útil; Estímulo à coleta seletiva de material reciclável, visando estimular uma cultura de preservação ambiental e promovendo a geração de emprego e renda, por meio de cooperativas; Estudo técnico acerca da drenagem das águas de chuva de inúmeros pontos em nossa cidade, como por exemplo a região da lagoa do jardim Nova Itália; Estimular a instalação de uma Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil, luta incansável do vereador Miguel, que tem se empenhado para a aprovação de seu projeto que trata deste mesmo assunto; Acompanhamento da programação do tratamento do esgoto sanitário na sua totalidade pela concessionária responsável. E demais ações envolvidas pelo conceito abrangente de saneamento básico.



O Plano deverá ser elaborado de forma participativa, com a realização de audiências públicas, onde deverão contribuir os cidadãos interessados e os setores organizados da sociedade civil. Após concluída esta etapa de consulta pública, o plano será submetido à aprovação da Câmara dos Vereadores e na seqüência sancionado pelo senhor prefeito.

Ocorre o Conselho Nacional das Cidades, por meio da Resolução 33/2007, determinou o prazo de até dezembro de 2010 para que os municípios elaborem seus planos, sob pena de bloqueio dos recursos do Governo Federal para investimento em saneamento básico.

Portanto, temos pouco mais de 9 meses para desenvolvermos um trabalho intenso e participativo na elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico.

É hora de mobilizar a sociedade para está importante tarefa. Vamos todos, contribuir na elaboração destas diretrizes, visando uma sociedade cada vez mais saudável!

Há braços!

Ronei Costa Martins – Vereador - PT

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Nova Eva

Admitamos: nestes últimos tempos devastamo-nos em proporções assustadoras. Vivemos numa realidade caótica potencializada pela aceleração industrial e tecnológica dentro de uma consciência competitiva e predadora.
Pois bem, diante desta situação delicada cabe-nos uma provocação: É urgente a intervenção feminina. Relatos históricos nos ensinam que a humanidade ingressou no modelo de sociedade predadora há cerca de oito mil anos. Antes as relações entre os grupos eram de solidariedade, de partilha de bens e de vida. Estas comunidades primitivas usufruíam da participação efetiva e decisória das mulheres. Depois, com o início da sociedade de caça, passa-se a vigorar a lei do mais forte, no caso o homem, mais preparado para a caça, em detrimento da mulher que passou a ter função secundária. Assim, a mulher foi confinada à tarefa doméstica, enquanto ao homem foi atribuída a função de provedor, de chefe, de político. Naquele momento as relações de solidariedade foram substituídas pelas relações de violência. Vence o mais forte. É matar ou morrer.
A mulher, enquanto dimensão feminina da humanidade, traz impregnada em seu ser valores fundamentais à vida. Desse modo, no momento em que ela foi apartada da vida pública para se dedicar à vida privada, a sociedade, então governada por homens, passou a substituir valores de cooperação, cuidado, atenção, amor; pelo culto à força, à disputa, à virilidade, valores evidentes na dimensão masculina e que hoje norteiam a nossa sociedade.
Atualmente, exemplos não faltam: sofremos guerras, fome, miséria, destruição. As poucas relações que cooperação, de harmonia, de integração, são insuficientes. Então vejamos: Que mãe depois de sentir o filho alimentando-se em seu seio o mandaria para uma guerra? Que mãe deixaria um filho passar fome, sob qualquer circunstância? Nenhuma!
Hoje, para que o equilíbrio necessário à vida seja promovido se faz urgente a participação feminina; não podendo haver vida em abundância onde uma só dimensão, no caso a masculina, prevaleça. É imprescindível a interferência de mãos femininas contribuindo para a tomada das decisões de interesse público, assumindo cargos políticos, administrativos, ensinando a nós, homens, os cuidados necessários para juntos salvarmo-nos.
Em contraste com a teoria bíblico-machista que colocou nas mãos da mulher, Eva, a culpa pela expulsão do Paraíso, hoje, talvez ela, a nova Eva, seja a protagonista da recondução da humanidade ao Paraíso.


Ronei Costa Martins

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Tarifa Promocional no Transporte Coletivo aos Domingos e Feriados

Eu não podia ter mais do que 10 anos. Lembro-me bem quando o pai, num daqueles domingos iluminados de fim de ano, reunia a família para passear. O destino variava conforme a vontade da mãe: ou iríamos almoçar na casa de um parente, ou partiríamos para um passeio diverso cujo roteiro poderia abranger escalas no Zoológico, na praça da Gruta, no Museu, etc. Eu, por razões óbvias, sempre preferia a segunda opção. Entretanto, independentemente do destino, o passeio sempre era bom, tanto que me lembro destes dias com carinho e hoje sei que eles foram importantes.

É certo que as opções de lazer, cultura, entretenimento, acessíveis à toda a população contribuem para nos lapidar em vistas de nos deixar melhores pais, mães, filhos. Além do mais, o espaço urbano existe para ser apropriado pelos seus cidadãos, visando sua vitalização. Ocorre que, na maioria dos casos, a questão econômica impede o acesso de muitos de nós à estas atividades importantes. Basta imaginar que uma família com 4 pessoas pagaria quase 20 reais somente com o ônibus para se locomover. Qualquer passeio t orna-se inviável para quem recebe salário mínimo e tem as obrigações conhecidas.

Já as empresas operadoras do Sistema de Transporte Coletivo em Limeira, por força contratual são obrigadas manter circulando veículos em todas as linhas, inclusive nos sábados, domingos e feriados. Nestes dias porém, os ônibus circulam praticamente vazios, gerando um custo considerável ás empresas que certamente é transferido para o valor da tarifa.

Então, se por um lado as pessoas têm dificuldades para passear nos dias de descanso em razão do alto valor da tarifa, por outro as empresas têm um alto custo para manter veículos praticamente vazios circulando aos domingos e feriados.

Agora o óbvio: Uma política tarifária que permita passagem promocional aos domingos e feriados atenderá aos interesses de ambos os lados, senão vejamos: As pessoas uma vez estimuladas a buscar os atrativos que a cidade oferece, colaborarão para diluir o custo do sistema que mantém veículos circulando nestes dias.

A tarifa promocional é, portanto, elemento essencial da política tarifária do transporte e sua implantação beneficiará aos usuários bem como colaborará positivamente na balança que define o equilíbrio econômico-financeiro do sistema.

Eu, enquanto menino, adorava andar de ônibus. Quero resgatar este gosto. Para tanto será necessária árdua labuta, afinal nosso transporte coletivo, hoje precário, carece de muitas melhorias.

Há braços!

Ronei Costa Martins
Vereador PT Limeira

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A lógica dos ‘Pequenos Favores’ e a Corrupção.

Certa vez, às vésperas da nossa posse na Câmara Municipal, estava na casa em que mora minha mãe, dona Maria. Na ocasião recebemos a visita de uma amiga dela, que, durante a prosa, sem qualquer pudor disparou: “Agora o Ronei ajeita uma casa pra você, Maria!”. A conversa terminou imediatamente tendo como desfecho a minha deselegante verborragia despejada sobre aquela senhora. Nunca mais a vi.

Passaram se dois anos e várias abordagens semelhantes me fizeram constatar que aquela senhora e outras muitas pessoas aceitariam naturalmente se eu, porventura, utilizasse a autoridade política para furar fila e conseguir uma casa para Dona Maria, minha mãe, mesmo que, para tanto, o direito à moradia fosse negado às outras pessoas mais carentes do que ela.

Deduzi ainda que a tolerância àquilo que é ilegal e imoral pudesse ser alimentada pelo desejo da extensão do possível ‘favor’ àquela senhora e demais pessoas do entorno, ou seja: Sei que é errado, mas se eu for beneficiado, concordarei.

Notei que vivemos em meio à um equívoco grave: Tendemos a considerar corrupção as ações que resultem em grande impacto financeiro, e que, preferencialmente, sejam praticadas pelo outro. Tendemos então a aceitar as pequenas atitudes lesivas ao conjunto da comunidade, desde que o indivíduo que observa e julga seja diretamente beneficiado por ela.

Este senso perverso de naturalidade, tão arraigado em nossa sociedade, ganha contornos bárbaros quando verificado no atacado.

Milhares de pedidos de ‘pequenos favores’ chegam ao gabinete do vereador. Desde água potável para eventos religiosos até fretes de ônibus para viagens, passando por pedidos de vantagens nas filas do sistema de saúde, educação e habitação. Estes pedidos desvirtuam a vocação do parlamento e alimentam a máquina da corrupção na medida em que o agente político é levado a contrariar os padrões normativos, visando extrair dividendos e recompensas em seu favor.

Segundo Norberto Bobbio em seu livro “O Dicionário Político”,a corrupção é um fenômeno pelo qual um funcionário público ou o político é levado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em troca de recompensas. Este conceito, esculpido pelo sociólogo permite-nos apurar a nossa percepção acerca daquilo que seria a corrupção.

Sejamos, portanto, criteriosos em nossa análise, sem nunca perder de vista que o solicitante dos ‘pequenos favores’, na medida em que o faz, contribui para manter a máquina da corrupção a todo vapor. Combater esta lógica perversa é o nosso maior desafio. Quem vem junto?


Ronei Costa Martins
Vereador-PT

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Função Social do Palhaço

A impossibilidade da alma em se adequar à realidade dura e cruel imposta por uma sociedade injusta e desumana fez brotar, como frágil semente geminada, a dimensão do palhaço.
Sua função social vai além do bem estar causado pelo riso. Quando vamos ao circo, ou quando vemos artistas que se dispõe a revelar a dimensão humana do ridículo, reagimos com o riso, expressão que ativa nossas defesas imunológicas, libera endorfinas (hormônios que produzem sensação de bem-estar), melhora a circulação sanguínea, evitando problemas de pressão, etc. Assim, a possibilidade de uma boa gargalhada é por si só extremamente benéfica.
No entanto e a despeito do riso por si só, o palhaço cumpre função social importante quando traz à pauta, de uma forma bastante agradável, a máxima da qual ninguém consegue fugir: Somos feios! Numa sociedade que supervaloriza a beleza, somos feios! Somos ingênuos, bobos, grotescos, etc. O palhaço desvela a dimensão humana da qual todos, por imposição social, somos obrigados ocultar. E mais, brinca com ela, diverte-se e dá nova conotação àquilo que, aos olhos do capitalista, aparentemente não presta.
A filosofia oriental ensinou que somos yn e yang, claro e escuro, virtudes e defeitos. Pois bem, o palhaço ousa brincar com estas porções numa sociedade que não aceita o ser humano por completo. A ordem é: Seja bonito, por que não há lugar para feios. E assim se movimenta a industria milionária dos cosméticos. Então chagamos ao âmago do que é ser palhaço: Simplesmente um ser que aceita viver intensamente o seu lado ridículo, a ponto de dilatá-lo, ampliá-lo, afim de realizar a sua arte. E através desta arte colocar o ser humano em contato com ele próprio à medida que o faz rir de si mesmo. Exatamente, quando rimos do palhaço estamos rindo de nós mesmos, uma vez que a dimensão do ridículo externada pelo palhaço, é, certamente, algo que todos carregamos de forma velada dentro de nós. Noutras palavras, se somos virtudes e defeitos, certamente temos escondido um palhaço que quer brincar, mas que é impedido de sair por uma sociedade que considera somente as virtudes. Talvez por isso este sujeito cômico exerça tanto fascínio.
O palhaço, sendo fruto das contradições da sociedade, denuncia a ordem capitalista vigente que exige a superação do homem pelo homem, que se baseia na “seleção natural” de Darwin, para explicar a exclusão social. Atuando em dupla (Branco e Augusto), suas mascaras cômicas são a solidificação da sociedade de classes. Um seria a voz da ordem e o outro o marginal, aquele que não se encaixa nos padrões. Assim os palhaços sempre falam da mesma coisa, eles falam da fome: fome de comida, fome de sexo, fome de dignidade, fome de poder. Este tipo cômico denuncia a ordem quando sai às ruas com uma roupa que foge às regras modistas, quando finalmente descobre uma utilidade para a gravata ao limpar o seu próprio nariz. É o palhaço e sua arte a serviço da transformação social
E como diria Oswaldo Montenegro: “...Que a arte nos mostre um caminho, mesmo que ela mesma não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção...”

Ronei Costa Martins

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vereador, um educador popular.

Há uma imagem negativa predominante na sociedade a respeito dos políticos em geral e do vereador em particular. A maioria considera que os vereadores são bem pagos para fazer pouca coisa e que eles pertencem à prefeitura. Boa parte da população não sabe qual a exata função do vereador, e forma idéia dela pelos costumes dos políticos tradicionais.
Diante deste quadro preocupante, desenhado por muitos políticos que nutriram uma relação clientelista com a população tentarei desmistificar alguns conceitos nocivos a todos nós.
Antes, porém é importante salientar: O poder legislativo, ao qual o vereador pertence é um poder independente, que tem por finalidade constitucional propor leis e fiscalizar os atos do executivo, ou seja, da prefeitura. Portanto o vereador não pode estar ligado á prefeitura, sob o ônus de ter a função de fiscalizador comprometida.
Pois bem, predomina em nossa sociedade a figura do vereador que ajuda na resolução dos problemas individuais, familiares ou do bairro para, em troca, ter o voto dos beneficiados. A regra neste tipo de relação é manter a população desmobilizada, como dependente do vereador para garantir suas necessidades supridas, situação lamentável observada nos meandros políticos de nosso país.
Esta relação clientelista, tão presente em nossos dias, além de arma eleitoral, é um dos fundamentos da corrupção. Senão vejamos: Para distribuir favores ou doações de todo tipo, que lhes são solicitados pelos seus clientes-eleitores, possivelmente o agente político tende a procurar garantir um bom volume de recursos por fora de seus vencimentos.
O clientelismo também está na base do empreguismo que incha as administrações públicas de funcionários indicados por vereadores, que lá são colocados por serem lideranças de bairros ou cabos eleitorais dos seus padrinhos políticos.
Derrotar esta prática é talvez o nosso maior desafio. E certamente a melhor forma de conter o clientelismo é mobilizar e organizar a população na conquista de direitos coletivos, para desmontar esta poderosa estrutura de corrupção e assim transformar nossas instituições públicas em instancias realmente democráticas.
Há que se apurar a sensibilidade para ser solidário com os que sofrem, porém ser solidário significa nunca perder de vista que seu sofrimento é resultado de uma sociedade desigual que joga milhares de pessoas na indigência, enquanto o estimado leitor corre os olhos sobre este artigo. Evidencia-se, portanto que a assistência (importante, afinal as pessoas tem fome e não podem esperar), não pode ser o eixo de uma atuação parlamentar, sob o risco de não atacarmos o radical de nossas dores e ficarmos na superficialidade, como que analgésicos diante de uma doença crônica.
Cabe-nos trabalhar incansavelmente para que as pessoas se aproximem, de forma organizada, e participem das decisões que as afetam diretamente, como diz Gramshi:... Diminuir a distância entre governados e governantes.
Se é verdade que o poder emana do povo, nada mais adequado do que partilhar o poder com o povo, através de Projetos de Iniciativa Popular, Plebiscitos, Referendos Populares, Orçamento Participativo, dentre outros mecanismos legítimos. Certamente esta aproximação popular da mesa de onde saem as decisões acerca do nosso futuro, inviabilizaria qualquer prática obscura de favorecimentos pessoais em detrimento da coletividade.
Eis a chave de atuação de um vereador nesta atual conjuntura: Atuar como educador popular, organizando a sociedade para que, juntos, possamos lutar na resistência a esta poderosa lógica de política tradicional que vem corroendo a democracia e nos paralisando enquanto sujeitos da história.

Ronei Costa Martins
Vereador – PT - Limeira

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O risco de estar vereador

Ocupar um cargo eletivo e provisório, atribuição honrosa cedida pela população através do voto, traz consigo alguns perigos, que exigem atenção redobrada tanto no exercício da função, quanto fora dela.

Joaquim Maria Machado de Assis, já no início do século passado, esculpiu um alerta por meio de um poema chamado “A Mosca Azul”. Nele o poeta nos chama a atenção para o perigo de sucumbir aos encantos do poder.

A estrutura hierárquica a qual o vereador está inserido exerce um encanto que tende a, paulatinamente, convencê-lo de que ele é, nas palavras do Machado de Assis, “O rei da Cachemira, tendo sobre o colo um imenso colar de opala e uma safira”.

Começa-se com um tratamento dispensado. De repente o estranhamento: Bom dia senhor Vereador! Vossa excelência deseja algo? E não para por aí: O bom salário, o veículo oficial, o suco gelado, o gabinete, os assessores à disposição, as primeiras fileiras reservadas em todos os eventos, tudo disposto harmoniosamente no “canto da sereia”, que seduz. O resultado é previsível: Após anos vivendo sob esta atmosfera, corremos o risco de acreditar. Eis que o veneno da mosca azul pode provocar delírios febris permanentes, nos quais o enfermo acredita ganhar status de semi-deus.

Representar politicamente significa, sem sombra de dúvida, conduzir a decisão tomada pela sociedade organizada, nunca decidir por ela. O vereador deve então anular-se enquanto indivíduo isolado, para abstrair o desejo coletivo na hora de sua decisão no plenário. Fica claro, portanto que o veneno da mosca pode prejudicar o trabalho do edil e até anulá-lo, uma vez que seus efeitos provocam reações contrárias, como por exemplo, a ilusão de que se pode tomar decisões que afetam a população, sem sequer escutá-la. Como se o edil recebesse, como num passe de mágica, o dom da ciência absoluta. Eis o perigo do veneno da mosca do Machado.

Felizmente há um antídoto. Porém antes é preciso reconhecer-se afetado pelo veneno. O remédio é simples, baseado nas coisas que aprendemos ao longo da vida, onde podemos encontrar as palavras do Cristo quando orienta seus companheiros: “Os reis das nações agem com elas como senhores, e os que a dominam fazem-se chamar benfeitores. Quanto a vós, nada disso. Mas o maior dentre vós tome o lugar do mais moço, e o que comanda, o lugar de quem serve. (Lc. 22,25-26).

Então, para não sucumbir aos efeitos do veneno da mosca, devemos assumir a condição de servo. Entretanto é importante qualificar o ato de servir. Que tipo de serviço o servo político deve assumir? Mas este é assunto para um outro bate papo. Por hora, busquemos assumir o compromisso de servos á serviço da população de Limeira.
Façamos da política um instrumento de transformação social!


Ronei Costa Martins
Vereador PT