segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Caritás in Veritate

Dia destes um casal de moradores de rua bateu em meu portão. Ao atendê-los, a mulher me pediu algo para aliviar a fome dos dois. Juntei algumas coisas que julguei a eles necessárias e lhes entreguei. Eles comeram e saíram, antes, porém lhes indiquei o caminho do serviço social municipal, afim de terem acesso ás políticas sociais vigentes.

Certamente todos nós já vivemos situação parecida, a maioria como ajudador, presumo. Agora pergunto: Aquele gesto faz de nós pessoas caridosas?

Não é raro, por exemplo, vermos estampadas nas páginas dos jornais, a foto de personalidades públicas entregando alimentos, brinquedos e outras doações às pessoas necessitadas. Embora sejam ações necessárias, elas bastam em si? Podemos repousar tranqüilos após ter participado de uma feijoada social em que a renda será revertida à uma entidade assistencial?

Segundo a carta enciclíca Caritás in Veritate, documento publicado ano passado pelo Papa Bento XVI e que passa integrar o conjunto da Doutrina Social da Igreja, o conceito de caridade não se restringe somente às microrrelações, mas assume uma dimensão macrossocial, abrangendo também questões sociais, econômicas e políticas, ou seja, a caridade exige de nós um olhar apurado para a estrutura social que é incapaz de garantir os direitos básicos à vida digna. O pontífice ainda reconhece que em nossos tempos a caridade se esvaziou de sentido e por isso é mal compreendida e excluída da vida ética, sobretudo na política.

No documento papal a caridade é inseparável da justiça social. Esta nos induz a dar ao outro o que é dele por direito, o que lhe pertence em razão do seu ser, melhor dizendo, eu não posso dar ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça. E os bens necessários à vida digna configuram um direito, portanto, por princípio, ninguém pode ser privado deles.

Assim, quando ajudamos alguém necessitado, somos convidados a nos perguntar se aquele gesto caridoso não foi apenas a devolução daquilo que lhe foi tirado antes. A partir deste questionamento encontramos o que a encíclica chama de “verdade”, por meio da qual podemos compreender que a concentração de riqueza, o latifúndio, o consumismo, a degradação ambiental em muito contribuem para a desigualdade social, que afeta não somente aquele casal, mas toda a humanidade.

Para o Santo Padre esta é a verdade a ser alcançada na caridade, sem a qual a atividade social acaba à mercê de interesses privados e às lógicas do poder, prejudiciais à toda sociedade.

Como dizia o educador Paulo Freire, “antes da caridade, a justiça social!”

Há braços!


Ronei Costa Martins
Vereador PT Limeira.

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