quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Se não puder contar, não faça!



Sempre fui uma criança de poucas travessuras. Ainda menino não tinha bem a noção do que era certo ou errado, sendo corrigido, na medida em que meus pais considerassem necessário. Diante da austeridade do pai e do rigor ético da mãe, todas as vezes que eu desejava qualquer estripulia, restava-me somente uma opção: Esconder-me para degustar aquilo que desconfiava ser errado. Muito embora parecesse o contrário, minhas travessuras nunca passavam de coisas bobas e sem importância, mesmo assim, eu, na minha meninice, envolvido por um misto de medo e desejo, tratava logo de ir para trás da casa, realizar aquilo que não tinha coragem de fazê-lo aos olhos de todos.

Certa vez, num daqueles dias iluminados, o pai encontrou-me atrás da casa. Fiquei sem graça ao notar sua presença e imediatamente abandonei a traquinagem. Meu pai nunca foi de conversa, mas naquele dia ele chamou-me até o seu quarto, fechou a porta e falou comigo por quase duas horas. Tenho pouca coisa daquele dia na memória, na verdade, lembro-me de uma única lição, apenas: “Meu filho, antes de realizar qualquer tarefa, pergunte-se se aquilo que será feito poderá ser contado. Se a resposta for não, então não faça”.

Passaram-se os anos, vieram os desafios e a oportunidade de exercer, no parlamento, função que muito me orgulha muito. Nestes três anos de atividade, tentando melhor compreender aquele espaço, exercito minha capacidade de escuta e observação, enquanto a lição do pai ecoa na lembrança: Se não puder contar, não faça.

No mundo da política, inúmeros são os acordos e conchavos visando pagamento de propinas, compra de votos, e outras aberrações. Acertos realizados em reuniões às portas fechadas, das quais não se sabe absolutamente nada. Nestas horas, compreendo melhor aquela lição ética que aprendi quando criança: As ações escondidas, certamente não podem ser reveladas porque não conferem com a ética com a moral e com a lei. Em sentido oposto, poderiam ser amplamente divulgadas, pois não causariam estranhamento aos que ouvem, nem constrangimento ao seu autor.

Talvez seja esta uma lição importante a todos nós que pretendemos dedicar nossas vidas ao nobre ofício da política, sem, no entanto, sucumbir aos encantos sedutores do poder: Antes de qualquer ação, perguntemo-nos: isto que farei poderá ser divulgado? Se a resposta for não, não façamos!


Ronei Costa Martins
Vereador PT Limeira

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